Educação Domiciliar como uma Realidade de Ensino
A Educação Domiciliar no Brasil levanta muitas questões que estão relacionadas a nossa cultura, organização geopolítica e econômica. No Brasil, por muitos anos, só conheciamos um modelo de ensino onde as crianças iam para a escola e aprendiam com professores que tiveram uma formação para isso. Pensar em um ensino onde os pais são os professores e a casa é a escola pode levantar muitos questionamentos. No Brasil a matrícula em escolas de ensino regular é obrigatória a partir de 4 anos de idade, portanto não há muito espaço para qualquer outra alternativa. De alguns anos para cá, com os avanços da tecnologia e com as possibilidades de conexões on-line temos visto o crescimento do ensino à distância, mas ainda restrito ao universo do jovem adulto. Porém muita coisa mudou esse ano em relação ao processo ensino-aprendizagem como conhecemos. Por conta da pandemia causada pelo Coronavírus, tivemos as aulas presenciais suspensas e alunos de todas as faixas etárias tiveram e ainda estão tendo que estudar de forma on-line. Por conta de tão rápida mudança, um dos assuntos que voltou à discussão foi a Educação Domiciliar.
Segundo o NHERI (National Home Education Research Institute) somente nos Estados Unidos cerca de 2.3 milhões de estudantes estavam sendo educados em casa no ano de 2016. Vale lembrar que essa modalidade de ensino não é uma idéia nova e já existe em vários países no mundo com sucesso. Nos Estados Unidos o homeschool foi legalizado em todos os 50 estados em 1993, mas antes disso alguns estados já tinham legalizado essa modalidade de ensino. Hoje em universidades como a Harvard as inscrições de estudantes vindos do homeschool tem o mesmo peso e são avaliados da mesma maneira que qualquer outro estudante. Por causa da organização política nos Estados Unidos as regras que regem o homeschool mudam de estado para estado. A maior parte das famílias que optam por essa modalidade de ensino usam currículos comprados de empresas particulares, porém alguns estados já oferecem subsídios para famílias mais carentes. Nos Estados Unidos os pais devem ter seus filhos entre 5 e 8 anos matriculados para educação formal, seja esta em casa ou na escola. Os pais que optam pelo homeschooling devem preencher um formulário atestando de sua opção, juntamente com uma cópia do currículo que será utilizado. Eles devem enviar esses documentos para os órgãos educacionais competentes nos seus distritos. Alguns estados são mais flexíveis que outros em relação ao tipo de documentação necessária, frequência que esses documentos devem ser apresentados pelos pais e tipo de avaliação exigidas das crianças que fazem homeschool.
As razões pelas quais as famílias optam por essa modalidade de ensino estão ligadas a questões como: insatisfação com a educação oferecida na escola, oportunidade de individualizar o ensino às necessidades e aptidões da criança, estilo de vida (famílias que viajam constantemente ou famílias de militares, diplomatas e etc.), questões morais e religiosas, questões específicas com relação saúde mental ou física do filho e como uma opção mais eficiente no ensino de crianças que têm algum tipo de deficiência.
Será que essa é uma possibilidade para o Brasil? Quais vantagens e possíveis dificuldades dessa modalidade de ensino? Essas são perguntas recorrentes em discussões sobre o homeschool.
A resposta para a primeira é sim, o homeschool não é só possível como já acontece em vários estados dos Brasil. Apesar de ainda não existir uma legislação específica que regulamente essa modalidade no Brasil, muitas famílias entram na justiça e tem conseguido algumas vitórias. As famílias que optam pela educação domiciliar estão cada dia mais organizadas em relação ao processo de legalização, como também na troca de experiências, conhecimento e materiais. A ANED – Associação Nacional de Educação Domiciliar (https://www.aned.org.br/) éum exemplo disso. Ela é uma instituição sem fins lucrativos que ajuda essas famílias.
Em relação às possíveis dificuldades acredito que a falta de uma legislação clara sobre o assunto é uma grande barreira, a falta de material pedagógico que atenda a necessidade das famílias e a questão da socialização também são problemas enfrentados no Brasil. Em relação a socialização, existem alguns modelos de homeschool onde as famílias próximas se encontram em datas específicas para promover a socialização das crianças e troca de informações. As famílias que praticam a educação domiciliar são sempre muito conscientes em oferecer oportunidades de socialização para seus filhos, seja através de esportes ou outros tipos grupos. Questões econômicas também podem ser uma dificuldade já que essa modalidade acontece na maioria dos casos com a compra de currículos. Uma questão que precisa ser esclarecida é que essa modalidade não acontece para substituir a escola na sua totalidade, mas para oferecer alternativas para a educação e possibilidades para as famílias.
Algumas das vantagens do homeschool no Brasil estão relacionadas à liberdade de escolha do tipo de educação as famílias querem oferecer aos seus filhos, como ela pode ser oferecida e de que maneira. Essa modalidade dá oportunidade para que uma educação de qualidade possa chegar a cidades pequenas e interioranas do Brasil. As crianças podem ter tempo de aprender sem a pressão de seguir um grupo. Oferece a possibilidade de um ensino personalizado e um currículo que corresponde as necessidades das crianças de inclusão. A criança e o adolescente desenvolve a capacidade de gerenciar sua rotina, ter responsabilidade com seus estudos e autonomia. Finalmente, o homeschool permite o empoderamento das famílias de terem a possibilidade de escolha e voz ativa na educação formal de seus filhos.